domingo, 4 de novembro de 2018

[LIVRO LIAMES LIVRE PARA OUVIR]

Para facilitar o acesso dos deficientes visuais ao meu livro "Liames", lancei um áudio livro (EP) GRATUITO com onze faixas musicadas da obra, utilizando a plataforma #SoundCloud para suprir essa demanda pouco trabalhada por nós, escritores cearenses. 
A ideia é ouvir para ver outros mundos, outros territórios “não territorializados” e, assim, dar voz a instabilidade das nossas certezas. Por esse prisma, o áudio livro Liames que de início nasceu para ser utilizado apenas para pessoas com deficiência visual, já ganhou adeptos até mesmo dos não deficientes.
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#Liames pelo SoundCloud é um “escutatório”; um espaço construído diariamente, a fim de, juntos, desbravarmos as palavras em narrativas insondáveis.
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Entre e fique à vontade para ouvir e imaginar:
https://m.soundcloud.com/lisianeforte/albums
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#lisianeforte #literatura #ouçamulheres #mulheresnaliteratura #escritoras#audiolivro #audiolivros #deficientevisual #escritorascearenses #fortaleza#autoras #ceara #brasil #temnosoundcloud #arte
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*SoundCloud é uma plataforma online de publicação de áudio utilizada por profissionais de música sediado em Berlim, Alemanha, fundado por Alexander Ljung e Eric Wahlforss em Agosto de 2007. Nele os músicos podem colaborar, compartilhar, promover e distribuir suas composições

terça-feira, 30 de outubro de 2018

O Livro das Liberdades Inventadas


Nos anos 80, Jesuína era uma infante¹, e o provedor do lar, como em tantos outros lares, era o homem – ele apenas. Seu José, não era um homem como se diziam por aí; ele acreditava em barrigas d’água que apareciam do nada e em seres angelicais que desciam à terra. Jejuava e orava aos céus. Sua menina, a Jesuína, passava o dia entre os galhos das mangueiras mais altas, chupando as mangas mais apetitosas que encontrava, saboreando-as. Ela rebolava as frutas para o pai. Seu José ria daquela cena – Jesuína nem sabia que isso era coisa de menino. Com a mesma liberdade, Jesuína andava suja e descalça pelos muros das casas, todas interligadas. Era a Cidade dos Funcionários², reduto dos considerados “gente de classe média”. Jesuína só entendeu mais tarde a expressão: “essa média que as pessoas fazem, sabe? ”, quando leu um livro de Marilena Chauí na Universidade.

- Que privilégio, Jesuína entrou numa universidade particular, todos enchiam a boca para falar!

Bota maquiagem, roupa nova; bota perfume francês feito na esquina.

- Bota salto alto para saltar mais alto, a sua Maria dizia – a mãe.

 Seu José apreciava a moça que sabia ler de tudo. Ele dizia para todos os vizinhos que Jesuína, ainda menina, leu Cavalo de Tróia 1, 2 e 3. Ficção, tudo tão inusitado para seu José. Agora, ele tinha alguém para conversar em casa. Seu José passou um tempo sem comprar roupas novas para pagar os estudos de sua moça tão inteligente. Jesuína era grata, mas encorpou e não gostava tanto assim dos enfeites, do azeite, dos deleites. Trabalhoso esse negócio de esticar cabelo, de colocar pó na cara e do cheiro de perfume da vovó que parecia não combinar muito bem com algo ali. Um dia, pelo janelão do Paranjana³, avistou uma coisa no lixão, e foi quando saltou o salto que teve – era o livro das liberdades inventadas. Jesuína lia e relia. Toda vez que lia o livro das liberdades inventadas, uma lágrima caia. E era cada vez menos pó na cara, menos vestes, menos enfeites. Tudo era cada vez menos, menos a verdade. Ela estranhou todas as coisas que eram demais, não por serem intensas, só as que eram a “mais” mesmo. Então, aumentou o seu medo, era demais o medo, porque agora ela era de “menos”, como uma “cachorra de rua”, já toda açoitada por comer do lixo dos outros.  

Estranhava ela.

Estranhavam ela.

Estranham ainda dela. 



Lisiane Forte

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1 – ETIM lat. infans,āntis 'que não fala, que tem pouca idade, novo, pequeno, criança'

2 - Cidade dos Funcionários é um bairro de Fortaleza localizado no sudeste da cidade. A região foi adquirida há mais de 50 anos pelo governo do estado, loteada e vendida para funcionários públicos do estado. De onde foi tirado o seu atual nome. É um dos bairros mais populosos de Fortaleza, e onde fica localizada a Igreja da Glória uma das mais procuradas na cidade para casamentos católicos. Ultimamente o bairro cresceu muito, está localizado na região que mais cresce na cidade de Fortaleza, ano após ano, mais prédios, condomínios e casas são construídas. No bairro existem diversos comércios, restaurantes, padarias, shoppings, escolas, praças, farmácias, supermercados, igrejas, postos de combustível, entre outros.

3 – Antigas linhas de transporte público de Fortaleza: Paranjana 1 e Paranjana 2.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Sarau Litero Musical Vestigium (24 de julho)


24 de julho | 18h - Lançamento do projeto Vestigium Documenta;
                     19h - Inicio do Sarau.
TODOS CONVIDADOS!
Onde: @vestigiumbraa - Rua Nogueira Acioli, 891 - Aldeota
Poetas:
Alan Mendonça
Francélio Figueredo
Gildemar Pontes
Lourdes Bernardo
Lidiane Cordeiro
Lisiane Forte
Natália Harrop
Nina Rizzi
Ricardo Kelmer
Talles Azigon
Kelsen Bravos
Músicos:
Anastácia e Zé Eugênio
Pingo de Fortaleza
Kátia Freitas
Kazane Blues

Saiba mais: https://shoutout.wix.com/so/0MHsf1Fu#/main

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Das exortações

                                                                           
Meu retrato, obra do artista Danillo Lima

A carcaça me salva do espirito,
da condição andarilha e dos sustos – no grito.
O espírito tem outros planos para as suas fraquezas,
e ocupa os lugares mais incômodos das heranças –  no baú, as miudezas.
A carcaça não lê profecias estancadas nas feridas,
das águas ambíguas, das hipocrisias.
Mas, o espírito de destemor despudorado, enfrenta o tempo de escolha,
dos açoites e das horas frias.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Das coisas


Eu não quero ser "tarde demais” para as coisas intranquilas;

Do garfo, do coração, das coisas de antemão.

No entanto, eu só falo sobre o "nada" e me comovo com o que cai, subitamente, no chão.

E transbordo aquilo que não tem peso, tamanho e medida – coisas que não estão nas apostilas,

Dos que se escondem nos enredos, das coisas rasteiras e sombrias.

Desses fingimentos reais, das coisas de "graça" -  dessas ditas democráticas.

Eu tenho as obrigações dos que vivem,

Das coisas que cabem a cada um de nós.

Desde então, a flor desabrocha, o galo canta e a piada destoa – desfaçam os nós;

Das miudezas, das poeiras, das incertezas,

Do que está por trás de nós, é para todos nós.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Das Oliveiras

A arte entalhou a mulher das oliveiras
e fala dos seus afetos e de suas fronteiras,
dos espelhos que pairam sobre cada pétala - dela.
Sim, da mulher que abocanha todos os sentidos,
e que de nada sabia dos finitos, dos seus próprios escritos.
Agora, ela está fora do tempo dos convertidos
e segura os ciclos nas mãos de todos os pervertidos.

Ela não fragmenta mais os dias de si
e inteira faz eixo e consola os "de perto", num frenesi.
Faminta de ser mais do que o próprio corpo - tão torto,
e não tem mais idade, nem é cor e nem peso exposto.
Dá conta das formas que a beleza mostra pelo dorso,
dos "algos" que tem mais do quem acenam as mãos,
dos sentidos, dos perenes, dos que não podem acabar em vão.

A mulher cava da terra todos os símbolos,
dos risos vagos e dos discursos frívolos, e não tem mais ídolos.
Ela fala com a língua sem enfeite, linhas de corte e sem recorte.
As retóricas para os verbosos - dos que acham que tem sorte.
Enganam-se quem acha que a mulher não é desse mundo,
do real enxerga a graça e do que está imundo - pune com o próprio punho.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Dos meus inteiros

A flor da dor de Danillo Lima (releitura de Edvard Much)
Todos os meus inteiros acolhem pedaços de mim,
e sagram pendurados no varal lá de casa,
colorindo os meus lençóis de cetim. 
Todos os meus inteiros ajuntam surrados pudores.
tal é a minha tinhosa ojeriza
do hálito fétido desses acirrados inquisidores.

Todos os meus inteiros são filhos do pai,
e guiados pelos suores cartesianos,
atravessam as idades, sem mais.

Todos os meus inteiros cresceram assim;
sem os sagrados virginais cor de carmim,
e das horas maternas dos partos.
Coitada de mim!